domingo, 30 de dezembro de 2007

Além do Amor Crepuscular

Eles se encontraram depois de muito tempo.
Falaram da vida, contaram novidades, como andava o serviço dele de professor e a faculdade nova que ingressaria, ela falou de seus trabalhos envolvendo grupos e planos pro futuro próximo.
Sabiam muito bem porque estavam juntos ali...e sabiam que não seria algo compacto a ponto de sr só um encontro para falar do cotidiano.
Ele olhava pra ela, enquanto ela falava, observava seus lábios...Ah! Doces lábios o qual ja experimentara! E quanta falta sentia de ouvi-los falar...e de beijá-los!
Ela falava e ele se perdia entre sua doce voz e sua beleza que qual ao sol iluminava seu rosto com alegria de tê-la perto novamente.
Ela falava, e as vezes se perdia em suas proprias palavras...vezes tentando imaginar "ele está prestando atenção?"...vezes pensando o que ele estava pensando e entre o intervalo de um pensamento e outro olhava sua face admirando sua beleza, não era vaidoso ou se vestia como o tradicional para sua idade...ele era um estilo diferente...um homem jovem com espirito e aparencia bem mais velhos... o que vezes a atraía nele...não o fato de ser velho, mas o fato de assumir quem era por dentro...quanto tempo ele demorou pra mostrar quem realmente era?! E não era ruim! Ele era diferente...e bom...
Ela também sentia falta de seus lábios, mas sentiria vergonha de falar naquele momento.
Ele ja não pensava... só admirava...como era bom ter ela perto de si... mesmo que não tivessem mais nenhum relacionamento, ele só queria vê-la bem, agora sabia amar de verdade e descobrira o real sentido de amar.
Ele num resistia mais...tinha de beijá-la! Mas não! Tinha vergonha de fazer isso depois de tanto tempo...
Entre palavras e palavras, ele passou então as mãos em seu rosto...que pele macia!
Ela ficou feliz em ver aquele sorriso tímido novamente, sentia que ele a amava, como ela também o amava!
Ele desviou os olhos e olhou para o horizonte através da janela gigantesca da sala...o Crepúsculo começara!
O céu vermelho como a cor de seu sentimento o atiçava a dizer coisas que tinha medo...sem motivos para isso, saberia que ela o ouviria mesmo que talvez não concordasse...mas ele temia...
Ela ja não sabia o que falava...sentia-se animada pelo toque...sabia que ele queria falar algo...que ela esperava com fervor...mas ele não falava! O que ele tinha?! O que ele esperava?! E por fim... o que ele temia?!
Finalmente o espirito dela se aliviou quando ele falou...ela ja não sabia o que ele diria esperava por algo que a tocasse...
Ele pôs a mão no pescoço dela suavemente...delicadamente...ajeitou seus joelhos, colocando uma almofada sobre eles e fez um gesto para que ela deitasse em seu colo...
Ela olhou pro rosto dele como um gesto de felicidade e indagação.
Ele sem jeito falou timidamente
"Por favor...em nome dos velhos tempos..."
Ela fechou os olhos e deitou, acomodando-se em seu colo amplo...ela deixava os olhos pouco abertos e ja não falava, apenas observava ele a olha-la com ternura.
Ela via a barba mal feita dele, e aquele perfume forte que ele usava.
Ele olhava seu belo rosto acariciando-o esperando o momento que ela fecharia os olhos.
Ela sabia o que ele esperava, mas não entendia sua atitude...
Depois de muita carícia ela fechou os olhos, sendo docemente tocada pelos lábios dele em sua face...num beijo curto e doce, com a ternura que só ele conseguia produzir nesses momentos.
Ela não entendia nesses momentos, como alguém que podia ser tão doce, muitas vezes no passado era tão racional e frio em suas decisões?!
E ele fazia a pergunta a si mesmo "Como pude ser tão egoísta e infantil?!"
Ele disse então com a boca meio fechada e afirmando timidamente "Eu te Amo"
E pôde então ouvir ela com os olhos fechados, voz doce dizer em um tom que soara como música a seus ouvidos "Eu também te Amo"
Ele acariciou mais uma vez seu rosto, e chegou a encostar os lábios nos lábios dela dispostos na direção do rosto dele, mas recuou na primeira vez por medo dela não gostar da atitude...
Mas pensou rapidamente, e tornou os lábios na mesma direção, dessa vez com as mãos dela tocando sua cabeça, e ela retribuíra o beijo com todo o Amor que tinha por ele.
Quando os lábios se afastaram, ambos olharam nos olhos, mesmo que em posições diferentes...E os lábios tornaram a se encontrar com fervor, separando-se apenas para trocar outra jura.
Ele acariciou o rosto dela e disse "Perdão..."
Ela sorrio com ternura e nada disse, passou a mão em seu rosto áspero, e beijou-o novamente.
Eles se abraçaram fortemente...
Já não era mais Crepúsculo...Apolo ja teria levado o Sol, e agora Morpheus reinava.
E deram o beijo mais longo de suas vidas...
As línguas bailavam entre as bocas como dançarinas proficionais que sabiam o que estavam fazendo.
Muito tempo depois da Lua ja reinando, ela se levantara do colo dele, eles se abraçaram fortemente
E ele disse no ouvido delicado e pequeno dela "Que nosso amor dure muito tempo além dos arrebóis"
Ela apenas sorrio e concordou com um gesto de afirmação com a cabeça.
Eles se beijaram novamente...
E o calor em seus corpos fazia daquela pequena sala uma verdadeira fornalha.
E após o beijo ele disse "Eu te amo...e sei que um dia seremos felizes!"
Ela disse então "não façamos planos para o futuro, o hoje é a benção, por isso se chama presente"
Se beijaram e se abraçaram varias vezes
E Eu te Amo ja era uma frase simples demais para expressar o que sentiam um pelo outro....

Raul "Nuit" Lino

quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

A Premonição

Noite quente, ele acorda suando, como envolvido num sonho horrível.
Num pulo ele procura seus óculos, acende a luz tateando a parede.
Olha pra sua estante, vários livros, quantas histórias, filosofias, e matéris haveria aprendido até ali.
Ele pega o telefone correndo
"Preciso avisá-la, preciso avisá-la"
Mas o outro lado da linha não atende...
Ele se recorda claramente do sonho:
Via o carro de sua amada em uma grande explosão, e por fim via paramedicos constatando morte do motorista
Lembrou-se que ela nunca permitia que ninguem dirigisse o carro por ela
O telefone não atendia, as mensagens não eram respondidas, ele suava em desespero
"Será que já é tarde demais?! ....Não eu seria avisado...."
Pensou em pegar o carro, que por ironia do destino era do mesmo modelo e cor que o dela, e ir até a casa dela, mas poderia ser um sonho comum....Não, ele sabia que não era um sonho comum....
"Já Sei"
Ele exclama em sua mente olhando novamente para a estante
Pega uma escada e sobe até alcançar a prateleira mais alta.
Passa a mão na testa para evitar que o suor entre em seus olhos
Puxa então uma caixa de madeira pequena que estava junto aos livros, desce num pulo e vai até a mesa correndo.
Abre um antigo baú na parede e pega um pano que é posto na mesa como toalha
O pano possui vários simbolos esquisitos com cores que dão a ele um ar esotérico
Ele transpira, fecha os olhos como em oração exclamando mentalmente
"Espero que eu ainda saiba...Eu preciso saber..."
Abre por fim aquela caixa estampada por um olho um sol e uma lua com as mesmas cores da toalha
tira então um baralho grosso de dentro da caixa
Um Baralho de fundo azul escuro, com dimensões bem superiores aos de um normal, cheio de desenhos estranhos como um carro puxado por cavalos de cores diferentes, uma mulher abrindo a boca de um leão, entre outros
Ele fecha os olhos novamente e começa a embaralhar...
Depois de um tempo, ele dispõe as cartas em leque e de lá retira algumas, colocando-as em suas posições exatas sobre a toalha com uma grande estrela de seis pontas estampada.
Ele abre o jogo, analiza carta por carta...
Pensa...Reflete...
Sussurra
"Eu tinha certeza..."
Fecha as cartas correndo coloca o baralho novamente na caixa, mas não se dá ao trabalho de pô-la novamente em sua prateleira.
Veste-se rapidamente e sai correndo para a garagem.
Liga o carro e sai como um relâmpago...

Ela acorda assustada...
Olha seu celular e vê as mensagens dele, responde-as correndo mas não obtem resposta
Acordara agora de um pesadelo vendo o carro dele em chamas
Acende a luz correndo analisa seu criado mudo onde apenas está um baralho igual ao dele, mas ela nunca aprendera a ler com a eficiencia dele, então apenas se veste correndo e pega o carro e sai em alta velocidade a direção da casa dele...

E Eles finalmente se encontram...
Infelizmente não podem conversar, se abraçar ou se beijar...
O Encontro soa triste, com chamas e pedaços de carro pelo ar...
Eles se beijaram pela ultima vez...e seus corpos se encontraram num abraço final...
Ele voara pelo vidro e caira nos braços dela, sem poder falar nada, e ela em um sono profundo nada responde a atitude dele...
a gasolina se espalha e o fogo toma forma
e em uma explosão os corpos são consumidos
por um fogo que queimou menos que a paixão que um sentia pelo outro
e poucos puderam então ver ...
Uma Carruagem Dourada que saíra daquele inferno, e os conduzira para terra onde o verão não acabaria...E eles se amariam por toda a Eternidade

Raul Nuit Lino

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

"E agora que este mundo está mudado, é preciso contar as coisas antes que os sacerdotes do Cristo Branco espalhem por toda parte os seus santos e lendas.

Pois, como disse, o próprio mundo mudou.

Houve tempo em que um viajante se tivesse disposição e conhecesse apenas uns poucos segredos, poderia levar sua barca para fora, penetrar no mar do Verão e chegar não ao Glastonbury dos monges, mas à ilha sagrada de Avalon: isso porque, em tal época, os portões entre os mundos vagavam nas brumas, e estavam abertos, um após o outro, ao capricho e desejo dos viajantes. Esse é o grande segredo, conhecido de todos os homens cultos de nossa época: pelo pensamento criamos o mundo que nos cerca, novo a cada dia.

E agora os padres, acreditando que isso interfere no poder do seu Deus, que criou o mundo de uma vez por todas, para ser imutável, fecharam os portões (que nunca foram portões, exceto na mente dos homens), e os caminhos só levam à ilha dos padres, que eles protegeram com o som dos sinos de suas igrejas, afastando todos os pensamentos de um outro mundo que viva nas trevas. Na verdade, dizem eles, se aquele mundo algum dia existiu, era propriedade de Satã, e a porta do inferno, se não o próprio inferno. Não sei o que o Deus deles pode ter criado ou não. Apesar das historias contadas, nunca soube muito sobre seus padres e jamais usei o negro de uma de suas monjas-escravas. Pois sempre usei as roupas negras da Grande Mãe em seu disfarce de maga, não os desiludi.

A verdade tem muitas faces e assemelha-se à velha estrada que conduz a Avalon: o lugar para onde o caminho nos levará depende da nossa própria vontade e de nossos pensamentos, e, talvez, no fim, chegaremos ou à sagrada ilha da eternidade, ou aos padres, com seus sinos, sua morte, seu Satã e Inferno e danação...Mas talvez eu seja injusta com eles. Até mesmo a Senhora do Lago, que odiava a batina do padre tanto quanto teria odiado a serpente venenosa, e com boas razões, censurou-me certa vez por falar mal do deus deles."

“Todos os deuses são um deus”, “e todas as deusas são uma deusa, e há apenas um iniciador. E cada homem a sua verdade, e Deus com ela”.

Morgana Le Fay

Tabua da Esmeralda

"Verum sine medancio, certum et verissimum
Quod est inferius est sicut quod est superius
et quod est superius est sicut quod est inferius
...
Pater ejus Sol
Mater ejus Luna
Portvit illud Ventus in ventre suo
Nutrix ejus Terra est
...
Sic mundus creatus est
Hinc erunt adaptationes mirabiles quarum modus est hic
Itaque vocatus sum Hermes Trimegistus
habens tres partes philosophoæ totius mundi
Completum est quod dixi de Operatione Solis"

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Lecter


"Meu caro Will:
Você já deve estar curado,
Pelo menos, do lado de fora.
Espero que não esteja muito feio.
Que coleção de cicatrizes você tem!
Nunca esqueça de quem lhe deu a melhor delas. E seja grato!
Nossas cicatrizes têm o poder de nos lembrar que o passado foi real.
Vivemos em uma época primitiva, não?
Nem selvagens, nem sábios.
O meio termo é sua maldição.


Uma sociedade racional me mataria
ou me utilizaria de alguma forma.
Você sonha muito, Will?
Penso sempre em você.
Seu velho amigo

Hannibal Lecter."






(Carta do Dr.Lecter enviada ao policial que o prendeu, 10 anos após a prisão, lembrando que este sofrera por ter recebido uma facada na barriga)